Sentir Empatia
Um espaço dedicado à intervenção social como contributo para um mundo melhor.
sexta-feira, 19 de abril de 2024
USAVEIS E DESCARTÁVEIS
domingo, 26 de novembro de 2023
041 - UM DIAGNÓSTICO RECUSADO
Evidentemente que se torna profundamente estigmatizante a conotação com uma personalidade assente numa comunicação passiva-agressiva, ou, pior ainda, quando de perturbações de personalidade se trata, com uma psicopatia e outras igualmente mais complexas. Em virtude disso, pessoas neste espectro vão, obviamente, refutar qualquer diagnóstico nesse sentido.
Ademais, já seria surpreendente se tais pessoas voluntariamente se dispusessem a serem acompanhadas por especialistas, o que, infelizmente, é incomum, tampouco aceitarem qualquer resultado dessa análise. Para as mesmas pessoas, os diagnósticos estarão sempre errados, numa clara negação da sua triste realidade.
Posto isto, para as vítimas de pessoas assim, a tarefa fica dificultada, porque não podem, de maneira alguma, contar com a participação da outra parte para um possível estudo de caso e na eventualidade de o fazerem, será, única e exclusivamente para que possam tirar partido da situação, adquirindo conhecimentos acrescidos para poderem continuar a aprimorar a manipulação. Sendo assim, restará à vítima encetar essa busca por explicações, por sua exclusiva iniciativa, procurando perante especialistas e pesquizando, as respostas que tem direito em abono da sua sanidade mental.
As pessoas com uma comunicação passiva-agressiva, caso sejam confrontadas com essa realidade, responderão com frases como: “talvez o teu diagnóstico esteja errado!”. Dissecando uma resposta destas, conseguimos por si só comprovar esse mesmo diagnóstico, ou seja, reúne nela um considerável número de indicadores de ser um desses casos:
a negação do diagnostico, transferindo a responsabilidade das suas ações para um vazio, ou culpabilizando terceiras pessoas e fatores externos por algo que é exclusivamente inerente à sua condição de passiva-agressiva;
a rejeição perante o confronto com a realidade dos factos. Como qualquer pessoa com estas características tem dificuldade em expressar diretamente as suas emoções, usa preferencialmente métodos mais sutis para evitar compromissos, neste contexto em particular, seria de evitar sentir-se comprometida ao assumir um diagnóstico que a levaria a encetar um caminho de busca das soluções possíveis para com isso conseguir viver e encarar a sociedade de forma mais conseguida e menos estigmatizante, resumidamente, receio de sair da sua margem de conforto para o lado em que assume o seu problema e respetivos compromissos que daí poderiam resultar;
o incomodo da descoberta que deixa este tipo de pessoas cativas perante quem lhes retira a máscara, na medida em que adquirem, pelo menos, a consciência de que alguém será eternamente detentora da chave que desvenda a sua pouco dignificante verdade, um dos maiores, senão o maior receio de pessoas com estas características, o de serem descobertas e caírem nas “bocas do mundo” pelos piores motivos;
o pormenor “talvez”, tem o exclusivo propósito de deixa no ar a eventual existência de outro diagnóstico que lhe seja mais favorável, porém, não descartando completamente a veracidade do ora apresentado, já na sequência da dependência emocional que cria com a sua vítima e que, provavelmente, dela jamais se conseguirá libertar. Os adiamentos são típicos nestes casos e esta é uma outra forma de o fazer, no fundo, adiando o reconhecimento de algo que lhe assombra a vida, preferindo colocar um “talvez” no caminho como escudo protetor;
a não divulgação desse outro eventual diagnóstico mais favorável, levanta desde logo a sombra de desconfiança que não existirá, tampouco fruto de qualquer trabalho nesse sentido. Este é o lado mais descarado destas pessoas, a mentira. Recorrem sistematicamente à omissão de factos que as comprometam, omissão essa cujo método mais eficaz é o silêncio e as não respostas, por razões obvias, pois bem sabem que quanto mais falarem e mais responderem mais o risco correrem de denunciarem o que não lhes convém que se saiba e quando se veem encurraladas não podendo manter a omissão, nada mais lhes restará, em contraponto ao compromisso com a verdade, que não o recurso à mentira;
revela o discurso dúbio e inconclusivo, típico destas personalidades. No alinhamento do que aqui já tem sido explicado, é uma frase obviamente dúbia e inconclusiva, fazendo parte de um padrão comunicacional característico. O propósito é sempre o mesmo, uma espécie de escudo ou máscara que protege da revelação da sua verdadeira essência, aquela que não convém que se saiba, nomeadamente quando já por si só a pessoa com este tipo de características é tendencialmente parca em convivência social, quase ausente de contacto sociais e a existirem são esporádicos e de abordagens meramente de cortesia, conferindo-lhes uma falsa imagem de gente séria e cordial, de quem pouco se sabe, discreta o suficiente para não ser alvo de falatório;
esconde informação fulcral para o bom entendimento do assunto em questão, quando seria tão mais fácil para ambas as partes, facultar a respetiva informação, a existir, para que os passos seguintes fossem dados de forma perfeitamente consciente da realidade com que se está a ser confrontado, em vez desta, evidente, vantagem de uma só parte em prolongar um jogo comunicacional que alimenta o efeito dúvida, nada mais, nada menos que evitar confrontos e manifestação de frustrações de forma direta;
se estivermos um pouco mais atentos, nesta mesma frase, poder-se-á ainda encontrar o lado sarcástico destas pessoas, porque deixa no ar alguma ironia perversa de que “eu até sei o que tu nem imaginas que sei”. Numa espécie de subestimação dos conhecimentos alheios e tentativa de se sobreporem com os seus;
É sempre bom lembrar que as pessoas com este tipo de características, evitam ao máximo a abordagem presencial e refugiam-se em mensagens escritas com frases ambíguas e soltas a espaços, compostas de poucas palavras, preferencialmente com significado dúbio e inconclusivo, mesmo quando se lhes pede uma resposta simples de sim ou não, o mais provável é ler-se um “sim e não”, ou nem sequer respondem. Um dos propósitos disto, é que desta forma evitam outro risco, que é denunciarem-se pela comunicação não verbal, nomeadamente as expressões faciais, desfasadas do seu discurso, em que a mentira se solta como se fosse uma verdade inquestionável, mas o rosto rígido, de olhos esbugalhados, em simultâneo dizendo o contrário, numa aparente calma profundamente denunciadora. Este é um dos grandes “tendões de Aquiles” das pessoas com estas características passiva-agressivas, porque ao contrário de outras, as suas mentiras são tão básicas e tão evidentes que facilmente são percecionadas.
O seu desagrado, também, pode ser manifestado com outro tipo de práticas, altamente penalizadoras para com quem lida com estas pessoas, como a de adiarem tarefas ou responsabilidades, o que pode ser grave, quando em questão estejam expectativas de vida a dois, fazendo suas vítimas crerem que o caminho será nesse sentido, quando na verdade boicotam em silêncio essas expectativas, chegando mesmo a anuírem, mas as suas ações de não cooperação mostrarem exatamente o contrário. Não são pessoas sinceras, inclusive na forma de elogiarem, numa permanente crítica disfarçada.
Para encerramento desta explanação e de forma transversal a toda e qualquer circunstância e acontecimento, predomina a sua maior arma, o castigo do silêncio, inclusive no exemplo dado com a frase suprarreferida, sendo ela própria o silenciar do diagnóstico.
sexta-feira, 17 de novembro de 2023
043 - O MONÓLOGO POSSÍVEL
Uma das particularidades inerentes aos comportamentos passivos-agressivos mais evidente são os obstáculos comunicacionais deliberadamente colocados por quem tem essas características de personalidade. A comunicação em geral fica permanentemente inquinada com o claro propósito de evitarem temas sensíveis, nomeadamente os que são referentes à relação que mantêm com as suas vítimas e os motivos pelos quais nela entraram.
Para explicar este tipo de procedimento, nada melhor que dar um exemplo da comunicação que se estabelece nestes moldes, tomando como ponto de partida uma eventual viagem de carro a dois num percurso de 400 km, sendo que na mesma as iniciais PA, designam a personalidade em questão:
- Apetece-te dar um passeio? - Pergunta a vítima, o lado construtivo da
relação.
- E a ti? (inviabilização de
expectativas criadas) – Responde a PA, o lado destrutivo da relação.
- Porque me devolves a pergunta
se foi a ti que perguntei! – Exclama a vítima.
- Faz como entenderes! – Na mente
da PA esta resposta tem implícito o descarte de qualquer responsabilidade
perante outros eventuais interesses e preferências da sua vítima.
- Pronto! Como gosto de te
proporcionar bons momentos, vamos lá então! – Desta forma a vítima desbloqueia
a situação e assume a decisão.
- Tens preferência por algum
sítio? – Coloca nova questão à PA.
- E tu? (ineficiência
premeditada) – A PA volta a devolver a pergunta, exatamente com o mesmo propósito,
o descarte.
Perante isto, a vítima toma os
comandos da situação e tenta, sozinha, proporcionar o melhor cenário para uma
viagem a dois.
Depois de percorridos os
primeiros 50 km:
- Soube-te bem dormir esta
meia-horinha? – Pergunta a vítima ao aperceber-se que a PA acaba de despertar
do seu primeiro sono daquela viagem (o desprezo).
- Que bonita aquela paisagem ali
ao fundo! – A PA desvia a conversa, para que a vítima não a desenvolva no
sentido de lhe chamar à atenção para o desprezo a que foi votada logo no início
da viagem que deveria ser de partilha e agrado mútuo.
Entretanto, dos 50 aos 150 km de
viagem, simplesmente silêncio (a tortura do silêncio) …
Incomodada com aquela abstração e
falta de companhia, a vítima volta a tentar quebrar o silêncio, usando palavras
ternas e cautelosas, com receio do efeito contrário:
- Gostas da minha companhia?
- E tu, gostas da minha? (irritar
pouco a pouco) – A PA volta a devolver a questão, não deixando à sua vítima
outra hipótese senão entrar no jogo.
- Não achas que num casal deve
existir diálogo e não este tipo de conversa disforme?
Silêncio…
Decorridos mais 50 km, aos 200 de
viagem, portanto, a vítima, já uma pilha de nervos por dentro, mas contendo-se,
volta a tentar:
- Fiz-te uma pergunta há
meia-hora atrás e ainda não respondeste…
Silêncio… que dura mais 50 km!
Não podendo permitir durante mais
tempo aquele ambiente enervante, a vítima, opta pelo monólogo e pede a atenção
da PA para o que vai dizer a seguir:
- Bom, já que não dizes nada,
tampouco respondes ao que te pergunto, obrigas-me a recordar-te que isso é
profundamente enervante e deixa-me bastante infeliz, pois, não é suposto que
alguém que diz que me ama, sujeitar-me a esta indiferença, inclusive, falta de
respeito, porque no mínimo, dirias, não me apetece conversar. Porém, sei que
não é isso que se passa, caso contrário nunca te apeteceria conversar, o que
não é verdade, na medida em que quando estás com outras pessoas, entusiasmas-te
em conversas completamente fúteis. Não me parece correto.
Silêncio… silêncio…
silêncio…
E até ao fim da viagem… silêncio!
No dia seguinte… silêncio!
Entretanto, nos caminhos do dia a
dia, passa a vizinha na rua e vira-se a PA para a sua vítima:
- Estás a ver aquela que ali
passou! Olha, anda a trair o marido com o patrão, uma desavergonhada, ainda por
cima com filhos pequenos. O marido é um doce de pessoa, trata-a tão bem e a
bandida faz-lhe isto ao coitado do homem… blá… blá… bla… (interesse pela vida
alheia e julgamento das outras pessoas).
Ao final da tarde, num serão em
casa de familiares, novamente o mesmo assunto:
- Sabem quem passou por nós na
rua? Aquela que engana o marido… blá… blá… blá…
Ao final do dia, pergunta a
vítima:
- Curioso o teu entusiasmo quando
o assunto é a vida alheia, em total contrate com os assuntos da vida em casal!
Silêncio…
Três meses mais tarde,
entremeados de múltiplos silêncios e não respostas, ao ver a PA a demarcar-se
da relação (a covardia), a vítima pergunta:
- Então, estás de partida?
Pergunta à qual a PA,
surpreendentemente, responde, obviamente, com poucas palavras e em frases
curtas:
- Como posso ficar na vida de
quem só diz mal de mim! Que sou enervante, fútil, não faço companhia, falo da
vida alheia, etc… Até fico com medo! Já nem consigo descansar só com receio do que
mais irás dizer de mim a seguir …
Seis meses mais tarde, sem
notícias da PA (a raiva), a vítima recebe no seu telemóvel, do nada, a seguinte
mensagem: “saudades” (a evasiva), à qual responde:
- Não deves ter, caso contrário
terias outro tipo comportamento.
Entretanto, algumas horas mais
tarde, chega outra mensagem, dizendo: “não fui eu que me afastei, tu é que
levaste a sério quando eu dei a relação por acabada”. Pasme-se!!! Isto é mesmo
assim! (não assumir responsabilidades e imputá-las à outra parte).
- Estás arrependida, é! Queres
voltar? – A vítima começa a testar a PA, já ciente das suas características de
personalidade e da forma como age!
Umas horas mais tarde, lá vem a
resposta:
- Sim!
À qual a vítima responde:
- Este sim significa que queres
voltar para mim, é isso? – Novo teste!
Mais umas horas decorridas sem
resposta e a vítima reformula a questão:
- Quando dizes que “sim”, é
porque pretendes voltar?
Novamente silêncio de várias
horas e depois de mais umas três ou quatro tentativas para que responda,
finalmente, a PA manifesta-se (a procrastinação):
- Não! Esse “sim” não é resposta à
tua pergunta se quero voltar, juro por Deus! (a mentira).
- Então é um “sim” referente a
quê?
- Não sei explicar, já nem me lembro porque disse “sim”! (o sarcasmo).
Resumidamente, é um suplício lidar com alguém passiva-agressiva, algo profundamente enervante! Nesta breve simulação de diálogo com uma personalidade desta natureza, se encontra tudo que nela encerra: a tortura do silêncio; as não respostas; o sarcasmo; a vitimização; a desresponsabilização; a raiva contida; a covardia; a mentira; a procrastinação; enervar pouco a pouco; ineficiência premeditada; inviabilização de expectativas criadas; o julgamento alheio… a maldade em geral!
quarta-feira, 15 de novembro de 2023
042 - TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO PASSIVA-AGRESSIVA
Em primeiro lugar, para se entender como são exercidas as técnicas de manipulação por parte de uma pessoa passiva-agressiva, convém recordar que este tipo de pessoas têm guardado em si, a “sete chaves”, uma necessidade de vingança constante por situações de desagrado que vão acumulando ao longo da vida e que não souberam manifestar em devido tempo, logo essa raiva contida vai escoando lentamente e de forma muito subtil sempre que as condições lhes sejam favoráveis, por vezes, nas rotinas do dia a dia, ou em momentos que parecem não se revestirem de grande importância, com pequenas atitudes que, à partida, parecem inocentes…, mas não são!
Porém, é nos momentos mais importantes e decisivos que estas pessoas aplicam o seus golpes, sempre de forma traiçoeira, levando a sua vítima a crer num determinado caminho, segurando uma das suas mãos, numa aparente passividade de quem se deixa conduzir voluntariamente, enquanto que com a outra mão lhe aplica uma facada nas costas, para mais adiante, com a maior desfaçatez ainda se virarem para a vítima e dizerem que um dia saberão porque o fizeram.
É exatamente neste ponto que entra a questão da manipulação, ou seja, a necessidade que a pessoa passiva-agressiva tem de validar uma pseudo argumentação, numa clara atitude de manter a vítima numa prisão emocional, levando-a a desgastar-se em pensamentos, procurando decifrar qual a atenuante que conferisse algum sentido para esse comportamento.
Esta forma de manipulação invisível, é, também, frequentemente utilizada para as pessoas passiva-agressivas se descartarem dos seus compromissos, deixando no ar um vazio interpretativo da situação, que confundirá a vítima e que durará para todo o sempre. Formas de agir estas, que, geralmente são legendadas por frases como: “um dia saberás porque agi assim e se não for eu a dizer-to, alguém o dirá por mim”!
Por um lado, agridem e em simultâneo vão dizendo que amam a pessoa agredida, por outro, abandonam-na e em simultâneo vão dizendo que um dia haverá uma forte explicação para isso. Naturalmente, nunca tais explicações chegarão, porque não é por amor que uma pessoa passiva-agressiva se prende às pessoas, mas por raiva. E mesmo que um dia mais tarde a vítima retomasse o assunto, a resposta iria sempre no mesmo sentido, de manter o mistério, desta feita dizendo que o tempo, entretanto, passou e já não fará sentido voltar ao assunto.
Evidentemente que esta forma de manter as vítimas emocionalmente presas, traz para a pessoa passiva-agressiva várias vantagens, de entre as quais, se destacam as seguintes:
Primeiramente, a que já se subentende nos anteriores parágrafos, que é a tentativa de passarem uma imagem de alguém que tem motivos mais que suficientes para se defender de algo, mesmo que esse algo nunca venha a ser conhecido, porque, pura e simplesmente não existe, não passando, portanto, por outras palavras, de uma forma de camuflar a verdade dos factos, num claro infundado apelo à inocência, na medida em que estão perfeitamente cientes que é de sua parte que nasce a perversidade, a mesma que não lhes convém que se saiba para não serem beliscadas na sua imagem;
Seguidamente, tais atitudes, vão proporcionar à pessoa passiva-agressiva, de igual modo, a ideia de vítima das circunstâncias, de tal forma, que o modo enfático como se referem à “grande revelação” que um dia chegará, pressupõe algo terrível e fortemente condicionante que a levou a ter tais comportamentos tão incompreensíveis, assim como justificará a própria rutura, transportando, de imediato, a mente da vítima para um eventual cenário de doença grave e, quem sabe, a tentativa implícita de poupar a parte lesada de um fardo mais pesado no futuro, num simulado ato de comiseração, quem sabe, interpretado como sendo de amor;
Por outro lado, como as pessoas com este tipo de personalidade, mentem e muito, uma obvia ferramenta de operacionalidade das suas intenções, desta forma, ao “chutarem” para diante qualquer explicação, evitam que tenham de mentir de forma descarada e serem apanhadas na hora, ou não fosse a mentira um ato de comunicação, ou seja, quanto menos explicações derem no momento e mais ao silêncio se votarem, menos risco correm de serem apanhadas a mentir, ou a contradizerem-se, muito menos a comprometerem-se. A omissão, é sempre a escapatória mais covarde.
Viver com uma pessoa passiva-agressiva, é como viver permanentemente à espera de nada, porque nada existe. Impossível criarem-se projetos conjuntos tendo por base o vazio, daí que para as vítimas, todo o ambiente gerado em torno da presença de alguém com este traço de personalidade, facilmente se torna insuportável, levando-a a definhar, a descrer, a adoecer e a envelhecer rapidamente, perdendo completamente a esperança numa relação que de início lhe foi, ardilosamente, perspetivada como promissora, restando-lhe o lamento pelo tempo perdido de forma completamente inglória e nada se aprende.
São formas muito subtis de magoar e de descarregar a raiva, um comportamento altamente perverso que não costuma olhar a quem, nem a meios, para produzir efeitos, não cuidam em saber se do lado de lá estará alguém sofrido pelas agruras da vida, ou menores, pelo contrário, quanto mais vulnerável e fragilizado estiver o seu alvo, mais campo de manobra lhes aflora para apertarem o asfixiante nó em torno da “presa”.
Não é um comportamento fácil de detetar, aliás, anda há muito tempo a dividir a classe científica, variando opiniões entre mera forma de comunicação ou perturbação de personalidade, mas para o efeito, ou melhor, para as vítimas, isso é de somenos importância, porque na verdade veem-se usadas para um único fim, serem um depósito da raiva acumulada de quem não está bem com a vida, nem se consegue integrar socialmente, vivendo de superficialidades e futilidades como forma compensatória da tristeza que é ter a plena consciência de que se tem um grave problema de personalidade altamente inibidor, que lhe confere a amarga sensação de que nunca conseguirão fazer ninguém feliz.
O mundo onde se movem estas pessoas é sombrio, frio e distante, os espaços são encarados como arenas de competição constante para ver quem mais se defende causando maior dano, num jogo sujo de parcas palavras de onde tentam sair de cara lavada e com aquele sorriso encoberto, não pela vitória pessoal, mas pela derrota alheia. Porém, quando, ao final do dia, se encontram no seu reduto, não passam de covardes guerreiras e guerreiros que se enrolam em posição fetal, num corpo fechado, isoladas/os do mundo da luz, algo que lhes atormenta as entranhas, entrando num eterno ciclo vicioso de replicarem comportamentos passivo-agressivos, de onde já não conseguem sair para o resto da vida, deixando atrás de si um lastro de dano em causa alheia, assim como de casos mal resolvidos, repletos de frustrações afetivas, cuja noção disso lhes conduz à pior condição humana, o ódio.
Contudo, por mais calculado e premeditado que seja o asfixiante abraço de uma cobra, esta poderá não ter a astúcia suficiente para selecionar a presa perfeita e é nesta margem de manobra que a vítima poderá surpreender, simplesmente, gritando ao mundo para que possam ver de que pele se reveste aquele abraço e por mais que se tente esconder no seu reduto, já não conseguirá escapar da fama que granjeou nos momentos de predação.