sexta-feira, 19 de abril de 2024

USAVEIS E DESCARTÁVEIS

O valor da vida alheia está em baixa!

Nos tempos que correm, porque, de facto, muitas pessoas correm, em busca de satisfazerem uma eterna insatisfação, o outro ser-humano, para estas pessoas, passou a ser considerado como um mero instrumento de superação da sua insatisfação.

Por elas, passamos a ser procurados, como quem procura um produto numa farmácia que seja composto por uma fórmula milagrosa que preenche aquele vazio que de outra forma mais natural não se consegue preencher. Chegadas a casa, somos usados até à overdose e posteriormente, quer embalagem, quer blister, quer caixa, quer bula, são literalmente jogados no lixo, na melhor das hipóteses na reciclagem, quem sabe um dia serviremos para outros propósitos, igualmente consumistas.

Convencidas que desta forma conseguirão resolver as suas mais gritantes frustrações, assim vão pela vida fora, somando e seguindo, estas pessoas, uma infindável coleção de episódios muito fugazes de usufruto da vida alheia, numa ilusão sem fim que as outras pessoas apenas servem para servir.

As outras pessoas somos todas/os nós, seres-humanos dignos de respeito e consideração, que não nos poderemos sujeitar ao redutor papel de mero tónico efémero da vida de outrem. Ser-se usada/o e descartada/o por outra pessoa, é das situações mais indignas a que possamos estar sujeitos, por isso e para que isso não aconteça, é necessário algo indubitável, experiência de vida. Experiência essa que se adquire com o peito virado para a vida, o que por vezes dói. Nesses embates vamos aferindo até que ponto nos poderemos sujeitar a ser apenas algo usável e descartável na vida de alguém, ou ser alguém.

Saber o que se quer da vida é uma tarefa árdua e que se deseja o mais precoce possível, caso contrário, poderemos atropelar outros humanos, os inocentes em relação às nossas dúvidas existenciais. Posto isto, não podemos, nem ser o comprimido para as dores de cabeça seja de quem for, nem delas fazer essa medicação. Para sermos felizes e fazermos as outras pessoas felizes, existe apenas uma “medicação” possível, que se chama “Ben-U-Resolvido”.



Pedro Ferreira © 2024
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