PERSONALIDADES ESPALHADAS NA REDE
Parte 01 - OBSTINAÇÃO INTELECTUAL
As redes sociais, como o Facebook, há muito tempo deixaram de fazer parte de um mundo meramente virtual, passando a integrar a realidade da vida do ser humano no seu dia a dia. Consequentemente, através das mesmas, quer explicitamente, quer implicitamente, revelam-se personalidades padrão, acreditando-se que, em grande parte dos casos, sem a própria pessoa detentora do perfil se dar conta de que se está a revelar, ou até a espalhar!
E isto tanto pode acontecer nas participações mais ativas como nas não participações; basta, para o efeito, existir uma apurada sensibilidade de quem gosta de analisar comportamentos para aferir que tipo de personalidade está do lado de lá daquelas imagens e palavras tornadas públicas — ou omitidas.
Deste curioso fenómeno resulta esta crónica sobre as personalidades que se espalham na rede, numa primeira abordagem focada naquela personalidade que se poderia apelidar de intelectualmente obstinada, das quais se destacam, entre muitas outras, as seguintes características:
- sobre um determinado tema, não fazem uma ou duas publicações apenas, mas umas 10 de uma só vez;
- os textos dessas mesmas publicações são extensos e de linguagem algo rebuscada, logo pouco acessível às pessoas menos letradas;
- as ideias não são próprias, mas sim um resumo de múltiplas abordagens à obra literária/filosófica de famosos autores;
- ora numa semana compulsivamente defende as ideias, por exemplo, de Santo Agostinho, como na semana seguinte as ideias contrárias, por exemplo, de Saramago;
- por existir nessas pessoas um défice de criatividade e de ideias próprias, procuram um foco que perseguem com sagacidade, geralmente uma pessoa que, no seu perfil, revele essa criatividade e ideias próprias que não conseguem alcançar;
- todas as convicções que esse alvo preferencial profere são rebatidas no mural do perseguidor;
- revela enormes contradições ideológicas ao querer dar a entender dominar todo e qualquer assunto, toda e qualquer corrente doutrinal, ao ponto de, por exemplo, passar uma longa temporada em claro ataque ao cristianismo e, na temporada seguinte, em acérrima defesa do catolicismo;
- não olha a quem ou a quê para aplicar o sarcasmo na sua retórica, com uma implícita tentativa de se autoelevar publicamente;
- público esse que nem sequer existe, ou é muito residual, ficando a ideia de que aquilo que ali se passa é uma mera catarse de frustrações para as quais poucas pessoas têm paciência;
- tais comportamentos são recorrentes e manifestados de forma muito intensa, que poderá durar vários meses (geralmente 6), numa compulsividade alucinante, que de súbito estanca para desaparecer durante o mesmo número de meses num completo apagão — e assim sucessivamente ao longo de vários anos.
Seria muito extenso desfilar aqui a enorme lista de características deste tipo de personalidade, mas as ora indicadas já nos poderão dar algumas ideias concretas do que realmente aqui se trata — no mínimo, uma evidente bipolaridade.
Porém, muitas vezes, a Perturbação de Personalidade Borderline é confundida com a bipolaridade; portanto, não é de descartar que se tratem de casos com esse tipo de gravidade. Inclusive, também é evidente que estamos perante uma comorbidade, que poderá então contemplar essas duas vertentes: a bipolaridade resultante da atividade muito intensa durante um determinado período e da inatividade total noutro; assim como uma eventual Perturbação de Personalidade Borderline, manifesta pela compulsividade e ultrapassagem dos limites do razoável e sensato.
Nessa comorbidade encontramos ainda fortes laivos de narcisismo, ao quererem autoelevar-se intelectualmente perante a plateia, como ainda aquilo que parece ser um POC (Perturbação Obsessiva-Compulsiva), pela forma obstinada como debitam informação em catadupa sobre um mesmo tema.
Na eventualidade de se tratarem de casos de Borderline, será bom acrescentar que, por detrás desses perfis, estão pessoas que pisam efetivamente o risco, podendo dar-se a comportamentos-limite, como, por exemplo, os que envolvem o consumo de estupefacientes, ou ainda práticas de feitiçaria, convictas de que isso lhes confere mais experiência de vida e enriquecimento de conhecimentos. Paralelamente, costumam ser pessoas com uma vida familiar problemática, revestida de violência, separações e recomeços constantes, assim como de infidelidades.
A exuberância destas pessoas, principalmente durante as fases “up”, é tal que qualquer pessoa mais atenta consegue facilmente aferir que personalidade está aqui em questão. Contudo, maior é o número de pessoas que embarcam na superficialidade, relativizando, sendo-lhes completamente indiferente a existência de personalidades assim — pelo menos até que uma desgraça aconteça, pois são, para além de tudo isto, pessoas com uma forte propensão para cometerem disparates irreversíveis.
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