domingo, 26 de novembro de 2023

041 - UM DIAGNÓSTICO RECUSADO

Evidentemente que se torna profundamente estigmatizante a conotação com uma personalidade assente numa comunicação passiva-agressiva, ou, pior ainda, quando de perturbações de personalidade se trata, com uma psicopatia e outras igualmente mais complexas. Em virtude disso, pessoas neste espectro vão, obviamente, refutar qualquer diagnóstico nesse sentido.

Ademais, já seria surpreendente se tais pessoas voluntariamente se dispusessem a serem acompanhadas por especialistas, o que, infelizmente, é incomum, tampouco aceitarem qualquer resultado dessa análise. Para as mesmas pessoas, os diagnósticos estarão sempre errados, numa clara negação da sua triste realidade.

Posto isto, para as vítimas de pessoas assim, a tarefa fica dificultada, porque não podem, de maneira alguma, contar com a participação da outra parte para um possível estudo de caso e na eventualidade de o fazerem, será, única e exclusivamente para que possam tirar partido da situação, adquirindo conhecimentos acrescidos para poderem continuar a aprimorar a manipulação. Sendo assim, restará à vítima encetar essa busca por explicações, por sua exclusiva iniciativa, procurando perante especialistas e pesquizando, as respostas que tem direito em abono da sua sanidade mental.

As pessoas com uma comunicação passiva-agressiva, caso sejam confrontadas com essa realidade, responderão com frases como: “talvez o teu diagnóstico esteja errado!”. Dissecando uma resposta destas, conseguimos por si só comprovar esse mesmo diagnóstico, ou seja, reúne nela um considerável número de indicadores de ser um desses casos:

a negação do diagnostico, transferindo a responsabilidade das suas ações para um vazio, ou culpabilizando terceiras pessoas e fatores externos por algo que é exclusivamente inerente à sua condição de passiva-agressiva;

a rejeição perante o confronto com a realidade dos factos. Como qualquer pessoa com estas características tem dificuldade em expressar diretamente as suas emoções, usa preferencialmente métodos mais sutis para evitar compromissos, neste contexto em particular, seria de evitar sentir-se comprometida ao assumir um diagnóstico que a levaria a encetar um caminho de busca das soluções possíveis para com isso conseguir viver e encarar a sociedade de forma mais conseguida e menos estigmatizante, resumidamente, receio de sair da sua margem de conforto para o lado em que assume o seu problema e respetivos compromissos que daí poderiam resultar;

o incomodo da descoberta que deixa este tipo de pessoas cativas perante quem lhes retira a máscara, na medida em que adquirem, pelo menos, a consciência de que alguém será eternamente detentora da chave que desvenda a sua pouco dignificante verdade, um dos maiores, senão o maior receio de pessoas com estas características, o de serem descobertas e caírem nas “bocas do mundo” pelos piores motivos;

o pormenor “talvez”, tem o exclusivo propósito de deixa no ar a eventual existência de outro diagnóstico que lhe seja mais favorável, porém, não descartando completamente a veracidade do ora apresentado, já na sequência da dependência emocional que cria com a sua vítima e que, provavelmente, dela jamais se conseguirá libertar. Os adiamentos são típicos nestes casos e esta é uma outra forma de o fazer, no fundo, adiando o reconhecimento de algo que lhe assombra a vida, preferindo colocar um “talvez” no caminho como escudo protetor;

a não divulgação desse outro eventual diagnóstico mais favorável, levanta desde logo a sombra de desconfiança que não existirá, tampouco fruto de qualquer trabalho nesse sentido. Este é o lado mais descarado destas pessoas, a mentira. Recorrem sistematicamente à omissão de factos que as comprometam, omissão essa cujo método mais eficaz é o silêncio e as não respostas, por razões obvias, pois bem sabem que quanto mais falarem e mais responderem mais o risco correrem de denunciarem o que não lhes convém que se saiba e quando se veem encurraladas não podendo manter a omissão, nada mais lhes restará, em contraponto ao compromisso com a verdade, que não o recurso à mentira;

revela o discurso dúbio e inconclusivo, típico destas personalidades. No alinhamento do que aqui já tem sido explicado, é uma frase obviamente dúbia e inconclusiva, fazendo parte de um padrão comunicacional característico. O propósito é sempre o mesmo, uma espécie de escudo ou máscara que protege da revelação da sua verdadeira essência, aquela que não convém que se saiba, nomeadamente quando já por si só a pessoa com este tipo de características é tendencialmente parca em convivência social, quase ausente de contacto sociais e a existirem são esporádicos e de abordagens meramente de cortesia, conferindo-lhes uma falsa imagem de gente séria e cordial, de quem pouco se sabe, discreta o suficiente para não ser alvo de falatório;

esconde informação fulcral para o bom entendimento do assunto em questão, quando seria tão mais fácil para ambas as partes, facultar a respetiva informação, a existir, para que os passos seguintes fossem dados de forma perfeitamente consciente da realidade com que se está a ser confrontado, em vez desta, evidente, vantagem de uma só parte em prolongar um jogo comunicacional que alimenta o efeito dúvida, nada mais, nada menos que evitar confrontos e manifestação de frustrações de forma direta;

se estivermos um pouco mais atentos, nesta mesma frase, poder-se-á ainda encontrar o lado sarcástico destas pessoas, porque deixa no ar alguma ironia perversa de que “eu até sei o que tu nem imaginas que sei”. Numa espécie de subestimação dos conhecimentos alheios e tentativa de se sobreporem com os seus;

É sempre bom lembrar que as pessoas com este tipo de características, evitam ao máximo a abordagem presencial e refugiam-se em mensagens escritas com frases ambíguas e soltas a espaços, compostas de poucas palavras, preferencialmente com significado dúbio e inconclusivo, mesmo quando se lhes pede uma resposta simples de sim ou não, o mais provável é ler-se um “sim e não”, ou nem sequer respondem. Um dos propósitos disto, é que desta forma evitam outro risco, que é denunciarem-se pela comunicação não verbal, nomeadamente as expressões faciais, desfasadas do seu discurso, em que a mentira se solta como se fosse uma verdade inquestionável, mas o rosto rígido, de olhos esbugalhados, em simultâneo dizendo o contrário, numa aparente calma profundamente denunciadora. Este é um dos grandes “tendões de Aquiles” das pessoas com estas características passiva-agressivas, porque ao contrário de outras, as suas mentiras são tão básicas e tão evidentes que facilmente são percecionadas.

O seu desagrado, também, pode ser manifestado com outro tipo de práticas, altamente penalizadoras para com quem lida com estas pessoas, como a de adiarem tarefas ou responsabilidades, o que pode ser grave, quando em questão estejam expectativas de vida a dois, fazendo suas vítimas crerem que o caminho será nesse sentido, quando na verdade boicotam em silêncio essas expectativas, chegando mesmo a anuírem, mas as suas ações de não cooperação mostrarem exatamente o contrário. Não são pessoas sinceras, inclusive na forma de elogiarem, numa permanente crítica disfarçada.

Para encerramento desta explanação e de forma transversal a toda e qualquer circunstância e acontecimento, predomina a sua maior arma, o castigo do silêncio, inclusive no exemplo dado com a frase suprarreferida, sendo ela própria o silenciar do diagnóstico.



Pedro Ferreira © 2023
(Todos os Direitos Reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário