quarta-feira, 15 de novembro de 2023

042 - TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO PASSIVA-AGRESSIVA

Em primeiro lugar, para se entender como são exercidas as técnicas de manipulação por parte de uma pessoa passiva-agressiva, convém recordar que este tipo de pessoas têm guardado em si, a “sete chaves”, uma necessidade de vingança constante por situações de desagrado que vão acumulando ao longo da vida e que não souberam manifestar em devido tempo, logo essa raiva contida vai escoando lentamente e de forma muito subtil sempre que as condições lhes sejam favoráveis, por vezes, nas rotinas do dia a dia, ou em momentos que parecem não se revestirem de grande importância, com pequenas atitudes que, à partida, parecem inocentes…, mas não são!

Porém, é nos momentos mais importantes e decisivos que estas pessoas aplicam o seus golpes, sempre de forma traiçoeira, levando a sua vítima a crer num determinado caminho, segurando uma das suas mãos, numa aparente passividade de quem se deixa conduzir voluntariamente, enquanto que com a outra mão lhe aplica uma facada nas costas, para mais adiante, com a maior desfaçatez ainda se virarem para a vítima e dizerem que um dia saberão porque o fizeram.

É exatamente neste ponto que entra a questão da manipulação, ou seja, a necessidade que a pessoa passiva-agressiva tem de validar uma pseudo argumentação, numa clara atitude de manter a vítima numa prisão emocional, levando-a a desgastar-se em pensamentos, procurando decifrar qual a atenuante que conferisse algum sentido para esse comportamento.

Esta forma de manipulação invisível, é, também, frequentemente utilizada para as pessoas passiva-agressivas se descartarem dos seus compromissos, deixando no ar um vazio interpretativo da situação, que confundirá a vítima e que durará para todo o sempre. Formas de agir estas, que, geralmente são legendadas por frases como: “um dia saberás porque agi assim e se não for eu a dizer-to, alguém o dirá por mim”!

Por um lado, agridem e em simultâneo vão dizendo que amam a pessoa agredida, por outro, abandonam-na e em simultâneo vão dizendo que um dia haverá uma forte explicação para isso. Naturalmente, nunca tais explicações chegarão, porque não é por amor que uma pessoa passiva-agressiva se prende às pessoas, mas por raiva. E mesmo que um dia mais tarde a vítima retomasse o assunto, a resposta iria sempre no mesmo sentido, de manter o mistério, desta feita dizendo que o tempo, entretanto, passou e já não fará sentido voltar ao assunto.

Evidentemente que esta forma de manter as vítimas emocionalmente presas, traz para a pessoa passiva-agressiva várias vantagens, de entre as quais, se destacam as seguintes:

Primeiramente, a que já se subentende nos anteriores parágrafos, que é a tentativa de passarem uma imagem de alguém que tem motivos mais que suficientes para se defender de algo, mesmo que esse algo nunca venha a ser conhecido, porque, pura e simplesmente não existe, não passando, portanto, por outras palavras, de uma forma de camuflar a verdade dos factos, num claro infundado apelo à inocência, na medida em que estão perfeitamente cientes que é de sua parte que nasce a perversidade, a mesma que não lhes convém que se saiba para não serem beliscadas na sua imagem;

Seguidamente, tais atitudes, vão proporcionar à pessoa passiva-agressiva, de igual modo, a ideia de vítima das circunstâncias, de tal forma, que o modo enfático como se referem à “grande revelação” que um dia chegará, pressupõe algo terrível e fortemente condicionante que a levou a ter tais comportamentos tão incompreensíveis, assim como justificará a própria rutura, transportando, de imediato, a mente da vítima para um eventual cenário de doença grave e, quem sabe, a tentativa implícita de poupar a parte lesada de um fardo mais pesado no futuro, num simulado ato de comiseração, quem sabe, interpretado como sendo de amor;

Por outro lado, como as pessoas com este tipo de personalidade, mentem e muito, uma obvia ferramenta de operacionalidade das suas intenções, desta forma, ao “chutarem” para diante qualquer explicação, evitam que tenham de mentir de forma descarada e serem apanhadas na hora, ou não fosse a mentira um ato de comunicação, ou seja, quanto menos explicações derem no momento e mais ao silêncio se votarem, menos risco correm de serem apanhadas a mentir, ou a contradizerem-se, muito menos a comprometerem-se. A omissão, é sempre a escapatória mais covarde.

Viver com uma pessoa passiva-agressiva, é como viver permanentemente à espera de nada, porque nada existe. Impossível criarem-se projetos conjuntos tendo por base o vazio, daí que para as vítimas, todo o ambiente gerado em torno da presença de alguém com este traço de personalidade, facilmente se torna insuportável, levando-a a definhar, a descrer, a adoecer e a envelhecer rapidamente, perdendo completamente a esperança numa relação que de início lhe foi, ardilosamente, perspetivada como promissora, restando-lhe o lamento pelo tempo perdido de forma completamente inglória e nada se aprende.

São formas muito subtis de magoar e de descarregar a raiva, um comportamento altamente perverso que não costuma olhar a quem, nem a meios, para produzir efeitos, não cuidam em saber se do lado de lá estará alguém sofrido pelas agruras da vida, ou menores, pelo contrário, quanto mais vulnerável e fragilizado estiver o seu alvo, mais campo de manobra lhes aflora para apertarem o asfixiante nó em torno da “presa”.

Não é um comportamento fácil de detetar, aliás, anda há muito tempo a dividir a classe científica, variando opiniões entre mera forma de comunicação ou perturbação de personalidade, mas para o efeito, ou melhor, para as vítimas, isso é de somenos importância, porque na verdade veem-se usadas para um único fim, serem um depósito da raiva acumulada de quem não está bem com a vida, nem se consegue integrar socialmente, vivendo de superficialidades e futilidades como forma compensatória da tristeza que é ter a plena consciência de que se tem um grave problema de personalidade altamente inibidor, que lhe confere a amarga sensação de que nunca conseguirão fazer ninguém feliz.

O mundo onde se movem estas pessoas é sombrio, frio e distante, os espaços são encarados como arenas de competição constante para ver quem mais se defende causando maior dano, num jogo sujo de parcas palavras de onde tentam sair de cara lavada e com aquele sorriso encoberto, não pela vitória pessoal, mas pela derrota alheia. Porém, quando, ao final do dia, se encontram no seu reduto, não passam de covardes guerreiras e guerreiros que se enrolam em posição fetal, num corpo fechado, isoladas/os do mundo da luz, algo que lhes atormenta as entranhas, entrando num eterno ciclo vicioso de replicarem comportamentos passivo-agressivos, de onde já não conseguem sair para o resto da vida, deixando atrás de si um lastro de dano em causa alheia, assim como de casos mal resolvidos, repletos de frustrações afetivas, cuja noção disso lhes conduz à pior condição humana, o ódio.

Contudo, por mais calculado e premeditado que seja o asfixiante abraço de uma cobra, esta poderá não ter a astúcia suficiente para selecionar a presa perfeita e é nesta margem de manobra que a vítima poderá surpreender, simplesmente, gritando ao mundo para que possam ver de que pele se reveste aquele abraço e por mais que se tente esconder no seu reduto, já não conseguirá escapar da fama que granjeou nos momentos de predação.



Pedro Ferreira © 2023
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