sábado, 30 de setembro de 2023

O ALERTA JÁ NÃO BASTA

Pode tratar-se de um assunto enfadonho, aquele que se prende com a mente e toda a parafernália de emoções em torno disso, nomeadamente as que resultam das relações tóxicas. Porém, não serão certamente poucas as pessoas que estarão na condição de vítimas desta circunstância, mas que ainda tendem a morar no silêncio dos inocentes, as mesmas que parecem desistir de lutarem contra um mal instalado na nossa sociedade que a todas as pessoas afeta direta ou indiretamente. Mesmo as que têm a perfeita noção da situação em que se encontram, nem sempre o conseguem expressar de forma esclarecedora, fazendo-se entender na sua dor, preferindo o refúgio e infelizmente, em muitos casos, entrando em depressão, ou até cometem suicídio, pois este assunto é realmente um drama para quem o vive, a pior experiência relacional que se pode ter.

Posto isto, é essencial estar em permanente alerta, mesmo que em assunto tão delicado o alerta em si só já não baste quando alguém em nossas vidas manifestar comportamentos dificilmente compreensíveis, com o consequente recurso a desculpas sem sentido, pois poderá tratar-se de alguém com uma personalidade perturbada e as consequências daí em diante não serão, certamente, muito agradáveis.

Mesmo assim, são ainda bastantes os casos de pessoas que relatam as suas tenebrosas experiências, curiosamente referindo-se a atitudes em tudo similares entre as várias histórias, como, por exemplo, o facto de serem cativadas por pessoas que se apresentam como livres e descomprometidas para uma relação de futuro, quando na verdade, mais tarde, se vem a descobrir que são comprometidas, ou coabitam com terceiras pessoas, igualmente vitimas de toda a situação.

Já começa a soar a flagelo esta praga de falsários e falsárias que se aproximam de pessoas bem formadas e sensíveis para aplicarem os golpes mais baixos, fazendo-se passar por gente bem formada e socialmente admirada, quando na verdade são exatamente o contrário, usam máscaras quase impercetíveis, rigorosamente estudadas para se apresentarem com uma diferente perante cada tipo de pessoa, as chamadas pessoas de duas caras ou múltiplas personalidades, a roçar a perturbação de identidade dissociativa.

São criaturas que se encontram perfeitamente integradas na sociedade, com suas famílias e empregos, ambos aparentemente bem estruturados, totalmente insuspeitas de tão perfeita ser a máscara, a mesma que camufla a verdade, a falta de autoestima vivida dentro do mais profundo reduto da sua existência.

Se não derem notícias durante dias a fio e depois alegarem que amam mas estiveram ocupadas; se usarem a doença de familiares como desculpa para não ouvirem os lamentos do seu par; se hoje disserem que amam e amanhã disserem que não; se hoje prometerem uma vida em família serena e bela e quando convidadas a passarem à prática enrolarem a conversa; se alegarem ataques de pânico ou outros problemas de saúde para despertar piedade; etc..., muito cuidado, são fortes potenciais ao enquadramento no grupo de pessoas com perturbações de personalidade.

A violência doméstica, tão falada hoje em dia, será fruto do acaso, ou, na verdade, é tão-somente a consequência da permissão das vítimas em deixar permanecer em suas vidas toda aquela criatura que revela este tipo de comportamentos, a quem vão desculpando dia após dia até ao dia fatal...




Pedro Ferreira © 2019
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