segunda-feira, 19 de junho de 2023

SERÁ QUE O DESAMOR CONSEGUE CONFUNDIR O AMOR?

Existe quem diz que ama, porém, revelando claros comportamentos de desamor.

São pessoas capazes de passarem longos períodos, ou um tempo sem fim, sem manifestarem qualquer interesse pela pessoa que dizem amar, em detrimento do constante cuidado em aferir do seu bem-estar ou das suas necessidades, que poderão ser prementes e de acrescida gravidade. Tampouco capazes de responde às inquietações e questões pertinentes da outra parte. Inclusive ao ponto de votarem a pessoa que dizem amar ao abandono de forma implacável, sem dó nem piedade.

Parece-lhes ser totalmente indiferente que a pessoa que dizem amar possa vir a ser cuidada, abraçada e beijada por outra. Perdem todas as oportunidades possíveis e imaginárias de estarem juntas, nada fazem para a terem a seu lado.

Se possível, vão ainda mais longe, entrando no campo das ameaças e das humilhações, não perdendo uma oportunidade para tentarem derrubar emocionalmente quem dizem amar. O desrespeito é a pedra de toque em toda a linha de atuação e a falta de consideração pela outra parte chega a ser gritante.

Fortes em palavras como “amo-te”, mas nulas em ações, estas últimas amplamente substituídas por inações, as grandes reveladoras de desinteresse por alguém, quanto mais por quem se diz amar.

Pressupondo-se que amar é um sentimento vivo que implica comportamentos em conformidade, parece pouco crível a inação perante a necessidade do usufruto da amplitude de coisas boas que amar e ser-se amado proporciona, pior ainda, no seu lugar, a existirem ações, irem estas no sentido contrário, o da perda definitiva desse usufruto.

Contudo, apesar de um cenário tão contrário ao sentido de amar, existe quem teime convictamente que de amor se trata. Não é fácil crer na existência, de um lado sádico e/ou masoquista no amor. Amor não pressupõe sofrimento, é o contrário disso, apenas se reveste de bons sentires.

Qual será o propósito dessa teimosia? Autoconvencimento da capacidade de amar quando ela na realidade não existe… noção que o amor existe somente porque dele se ouve falar, mas que se desconhece o seu sentir… tentativa de camuflagem de uma responsabilidade não assumida… mera frustração… São várias as hipóteses, mas nenhuma delas corresponde ao conceito de amor.

Dizer a alguém que a amamos, vai para além das palavras, é um ato de enorme importância que poderá marcar a vida de várias pessoas em simultâneo, por tal, será sempre de uma indescritível falta de honestidade e de irresponsabilidade dizê-lo sob motivações dúbias, ou até, perversas. Quando é dito sem autenticidade, o estrago em vida alheia pode ser considerável, porque ainda existe quem acredite que para além de si próprio, existe sempre mais alguém com a capacidade de amar. É um desejo tão forte e um querer tão grande, sentir o amor de alguém, que a cegueira instalada pode não deixar ver o óbvio, que não será o simples facto de se ler ou ouvir que alguém nos ama que o sentimento corra entre essas letras.

O desamor é uma prática tão desleal que quem o sente não se queda pela indiferença, quer ir muito mais além, quer fazer vingar o sentido contrário às manifestações de amor, ou seja, quanto mais desamor sentirem mais necessidade têm de afrontarem a pessoa por quem o sentem, ao ponto de dizerem que a amam.

A forma mais cruel de desamor é tentar confundir o amor.


Pedro Ferreira © 2023
(Todos os Direitos Reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário