quarta-feira, 21 de junho de 2023

A TEIMOSIA DO ENGANO

Por vezes, as pessoas mais otimistas, teimam em acreditar que para toda a humanidade a verdade é o que importa... erro!

Não é verdade que a verdade seja o que importa para todas as pessoas, bem pelo contrário, a tendência corre no sentido da inverdade, da mentira, da falsidade, da omissão e afins.

Existem demasiadas pessoas a negarem a verdade, preferindo abraçar o seu contrário. Por isso, trata-se de uma inocente teimosia que, por vezes, demasiadas vezes, se torna estéril.

Para que a intenção de se dizer a verdade a alguém cause efeito, é, efetivamente, necessário que esse alguém a queira aceitar, o que, infelizmente, parece não acontecer na maioria dos casos, uma ideia bem vincada pela semântica do filósofo romano Lucius Annaeus Seneca, palavras extraídas daquela que é, provavelmente, a sua obra mais significativa, Epistulae Morales ad Lucilium, tendo como temas principais a ética e o carácter e que nos recordam que “é preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la”.

Para as pessoas sensatas, a preferência por se viver ao engano pode ser assustadora, mas tem de ser tida em conta nas relações interpessoais e deixar correr quando se trata de uma opção de vida feita pelo seu interlocutor. A teimosia do engano chega a ser superior à da verdade e quando assim é torna-se uma guerra desigual, invariavelmente vencida por quem teima em contrariar a verdade. Será, pois, também sensato, não entrar neste tipo de guerras perdidas à nascença, um dispêndio de energias injustificável que somente poderá reverter em desgaste emocional para quem munido da verdade a queira travar.

Talvez, viver ao engano seja uma forma mais cômoda de levar a vida, quiçá mais de a suportar, obviamente para quem pelo mundo se arrasta sem nunca descobrir o sentido da vida, que se quer em partilha de amor, nomeadamente aquelas pessoas com laivos de maquiavelismo que entendem que fugir à verdade é perfeitamente justificável quando o fim a alcançar seja revestido de sucesso. Estes, são, os casos extremos.

Também, esta prática recorrente de negação da verdade e de constante tentativa imposição da inverdade permita a quem o faz a obtenção de algumas vantagens, que poderão não passar de uma mera forma de se tentar camuflar a sua própria realidade, nem sempre a socialmente mais agradável, numa espécie de peça de fruta que mesmo caída por terra, continua a dizer pertencer à frondosa árvore que tem à sua frente, vangloriando-se de cores que já não ostenta, tampouco, por mais que teime, sem a mesma frescura e consistência das outras peças de fruta que realmente ainda pertencem à mesma árvore.

O facto, aquilo que inequivocamente confere a verdade, nos tribunais apelida-se de “prova”, pode ser duro de constatar, mas é esse mesmo facto, por mais duro que seja de constatar que nos conduz, a todos os humanos no sentido da verdade. Quem foge da verdade, tentará sempre modificar o facto, dando-lhe a roupagem que mais lhe convém, adulterando-lhe as cores se necessário for e aquilo que naturalmente é negro, porque lhes convém é visto como sendo de outra cor qualquer, pode até variar a cada dia, mas terá de ser sempre outra cor que não o negro, porque essa não lhes convém. Em certos casos, a teimosia pela imposição da inverdade é de tal ordem que existe quem tente negar a existência do negro como cor.

Mas regressemos aos casos mais ligeiros, aqueles em que a única vítima é a própria pessoa que nega ouvir a verdade, para que fique no ar a reflexão sobre a possível vantagem que esse modo de vida lhes poderá trazer, sendo certo que não são conhecidos casos de sucesso de quem vive fora da verdade. Talvez a imagem mais inquietante que daqui se possa extrair, será aquela em que no derradeiro minuto da passagem dessas pessoas por este mundo, olham para trás e constatam que apenas sangue lhes correu nas veias, porque a vida não aconteceu, foi um engano.



Pedro Ferreira © 2023
(Todos os Direitos Reservados)

Sem comentários:

Enviar um comentário