Datas fixas para assinalar qualquer intenção poderá
levar-nos a desviar a atenção da causa maior.
Não valerá de muito, ou mesmo de nada, encontrar um
dia do calendário para se lembrar que existem Mulheres vítimas de violência
doméstica e que tal deve ser combatido, quando durante o resto do ano os casos
desta autêntica barbárie somam e seguem com um cariz agravado, em género e
número.
Hoje, deveria ser esse dia, também! Contudo, infelizmente,
no seu lugar, provavelmente, uma nova vítima surgirá noticiado na comunicação
social, algo recorrente e sem fim à vista, bem pelo contrário, como atrás se
refere, com tendência a agravar-se, talvez, porque se continua a tentar debelar
a febre e não a infeção, ou seja, intervenções à “posteriori” em vez de uma
intervenção primária, na raiz do problema, as perturbações mentais.
Porém, já que isso parece não ser tido em conta por
parte de quem superintende destes assuntos e por parte de quem pode deliberar
sobre os mesmos, com os péssimos resultados que se vão obtendo, quem sabe,
parte do caminho para se encontrar uma solução não resida na atitude da própria
Mulher?
É certo e sabido, que num considerável número de
casos, algumas dependências acabam por gerar o ambiente propício para o
agressor, tornando-se mais difícil para a vítima poder agir. No entanto, e,
porque esta abordagem tem o propósito de passar uma mensagem positiva, de
esperança acima de tudo, salvo casos extremos, de cariz cultural/religioso, em
que a Mulher é votada a pouco mais que uma “coisa”, em povos ditos civilizados,
como os portugueses, aonde as Mulheres usufruem de plenos direitos, em alguns
casos mais que os Homens, como é o caso da decisão sobre a vida ou não vida de
um ser gerado por ambos, de modo geral, não há porque viver em constante clima
de horror.
Tomemos, pois, como exemplo, as Mulheres que se
libertaram dessas amarras, para que esta mensagem seja de efetiva esperança, na
medida em que se elas conseguiram, as demais, com maior ou menor dificuldade,
também conseguem, antes que seja tarde e a desgraça se concretize.
As que conseguiram superar, deveria ser consideradas heroínas nacionais. O seu percurso não foi fácil, tantas vezes pautado por ameaças que se prolongaram no tempo, assim como perseguições, atitudes provenientes de indivíduos que não cresceram mentalmente, convencidos que alguém poderá ser sua propriedade, nomeadamente a Mulher que conseguiram enganar, arrogando-se no direito de sobre elas exercerem todo e qualquer domínio, privando-as de liberdade e iniciativa, levando-as a viver um autêntico pesadelo. São Mulheres que agora, deveriam receber, de todos nós, o devido reconhecimento e louvor, assim como já vai sendo tempo de serem devidamente recompensadas por tudo que perderam, algo que, infelizmente, estamos muito longe de tornar uma realidade, tão longe quanto o facto de nem sequer ainda, estar garantida a punição do agressor, porque o que, na verdade, se constata é que fica muito aquém do desejável tudo aquilo que advém das decisões da justiça no que a esta matéria diz respeito.
É bom ter sempre presente, que qualquer agressor é
manipulador, logo, tentará conduzir a sua vítima ao estado de culpabilização
pessoal, por outras palavras, fazer com que se sinta a responsável pelo ponto a
que o agressor chegou. É certo, também, que muitas mulheres são capazes de
levar um homem ao desespero, através de um refinado jogo de massacre
psicológico. Contudo, nada justifica a paga na mesma moeda, com recurso à
violência, seja de que tipo for, tampouco ao ponto de se perderem vidas humanas
ou as condicionarem para sempre.
Há que usar de toda a sensatez e essa reside num tempo
de ação muito curto, ultrapassado o qual torna tudo muito mais difícil de
resolver ou até irreversível. Posto isto, a agir, que seja de pronto, à
primeira situação de desagrado, por mais doloroso que seja, pois, não faz
sentido que alguém esteja na vida de outrem para causar tristeza e dor, não é
suposto! Se alguém entra na nossa vida, é para nos acrescentar coisas boas e
isto é imutável. Sofrimento não é coisa boa!
Seria bom que todas as Mulheres vítimas de violência doméstica, tivessem a coragem de sair logo no primeiro momento, sem olharem para trás. Um dia, tudo passou e nada ficou, mas quanto mais tarde se tomar a decisão certa de se afastarem, correrão sempre o sério risco de nunca passar e nada de si própria ficar.
- Em tempos, tu Mulher, foste esse quase nada, esqueceste-te de ti própria para preservares quem não te merecia, iludida por ideais de vida assentes num sonho que trazias de trás, esperançosa que o dia seguinte seria sempre melhor que o anterior, mas a parte alguma te levou, e com isso perdeste-te, vendo o teu corpo definhar, ganhar cicatrizes e na tua alma, feridas abertas, em constante latejar. Hoje, és digna, o teu corpo belo e saudável, assim como no peito circula apenas ar puro.
Por ti, Mulher, vale sempre a pena, doa quanto te doer até te reencontrares!
Pedro Ferreira 2020
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