sexta-feira, 9 de setembro de 2022

MANIPULAÇÃO - UMA CONSTANTE ARMADILHA

Manipulação é agir de forma a parecer ser, para seguidamente se alegar que é sem ser.

A manipulação é uma constante no quotidiano do ser-humano, ora porque se tenta manipular, ora porque se é o alvo dessa tentativa.

Um dos mais comuns argumentos para se tentar manipular alguém, prende-se com questões de saúde, como, por exemplo, perante alguém que se quer manipular provocar o sentimento de compaixão com a comunicação de um hipotético estado físico/mental menos favorável, sem mais delongas e rematando que não é nada preocupante, sabendo de antemão que o interlocutor demonstrará a sua disponibilidade para ajudar, para, mais adiante, quem tenta manipular, voltar a tocar no assunto com o seu alvo, desta feita para lhe cobrar a falta de ajuda.

Quando se tem o hábito de manipular, qualquer motivo serve, sendo que o objetivo final é sempre o de deixar a outra parte numa espécie de dívida moral para com quem tenta manipular, que, por sua vez, perspetiva cobrar mais adiante numa situação que lhe possa ser mais vantajosa, ou seja, num novo ato de tentativa de manipulação. Enquanto esse momento mais oportuno para tirar vantagem não surge, para quem consegue ter sucesso na sua tentativa de manipulação, decorre uma vantagem acrescida, que se prende com o facto de poder alegar um estado de maior fragilidade e exigir compreensão por mais absurdas que passem a ser as suas palavras e inadmissíveis os seus atos.

Talvez seja melhor manter sempre presente, na abordagem a este delicado assunto, a ideia de “tentativa” e não partir logo para a ideia de manipulação efetiva, porque para que esta se confirme será necessário que o alvo se deixe manipular. É certo que qualquer pessoa, por melhor preparada que esteja para enfrentar os perigos que a ação humana acarreta, poderá ser vítima de manipulação. Porém, mais dificilmente se estiver atenta e tiver essa realidade como uma presença constante nas relações humanas, por muito subtil e disfarçada que seja e que, a qualquer momento, se pode nela tropeçar.

Quem quiser tirar partido perante outrem de forma pouco ética, sempre poderá: oferecer o seu ouvido para escutar e não ouvir, para depois cobrar a oferta; oferecer a sua mão para amparar e não aparecer na queda, para depois cobrar a oferta; oferecer boas palavras inaudíveis, para depois cobrar a oferta; oferecer o seu abrigo sem lhe revelar a morada, para depois cobrar a oferta; ou até oferecer o Mundo que sabe não ser seu, para depois cobrar a oferta.

Ao contrário das armadilhas convencionais, que se fixam num sítio certo e esperam inertes pela presa, as pessoas manipuladoras são armadilhas que não têm lugar certo para estar, andam por aí em busca de presas fáceis, por isso, o risco de se cair nelas é bem maior.


Pedro Ferreira © 2022
(Todos os Direitos Reservados)

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