Quando descobertas e denunciadas, as pessoas
mal-intencionadas escondem-se no seu buraco como a serpente chamuscada,
colocando-se prontamente no papel de vítima da sua vítima.
Até que a vítima desperte para a realidade de,
efetivamente, estar perante a presença de uma pessoa de personalidade
perturbada, sabe-se que lhe reserva um percurso penoso, cheio de interrogações
que a todo o momento vão surgindo pelo caminho, sendo este feito de sucessivas
idas e voltas à medida dos perdões que o coração vai concedendo, no fundo, um
caminho sinuoso de altos e baixos, longe do que realmente é suposto ser uma
relação de amor, podendo, inclusive esta inconstância, por si só, tornar-se
nesse sinal de alerta, na medida em que um dia a vítima terá, por exaustão,
forçosamente de parar para refletir sobre o que realmente significa esse
carrossel de emoções quase sempre negativas que parecem conduzir a parte
alguma. É nesses momentos que se faça luz, o tal sinal de que algo não faz
sentido e para o qual terá de existir uma explicação plausível.
Chegada a este ponto, a vítima, quando ainda capaz de fazer
um raciocínio minimamente lógico, sente a necessidade de procurar por essas
mesmas explicações em ambiente fora da relação, ora recorrendo às amizades em
jeito de desabafo, ou a quem esteja devidamente habilitado a fazer uma
avaliação técnica da situação, abstraindo-se o mais possível do papel que ocupa
como uma das duas personagens principais do mesmo “ato”, tirando desta forma
partido da posição de isenção de quem observa a situação de fora, ou seja, de
alguém capaz de fazer uma análise mais assertiva.
Este momento de pausa e lucidez para reflexão é
crucial e intemporal numa relação desta natureza, pois deverá e poderá ocorrer
a qualquer momento, o mais cedo possível, de forma a evitar-se maior dano e o
prolongamento do sofrimento da vítima por algo que jamais terá um propósito
válido, tampouco de felicidade. Poderá, este momento em questão, estabelecer o
limite entre a destruição da vítima e a sua salvação.
Conseguir sair de dentro de um cenário de constante
ambiguidade, onde se assume um dos papeis principais e conseguir ocupar o papel
de espetador, vai, efetivamente, proporcionar à vítima a possibilidade de tomar
uma decisão, que, por muito dolorosa que seja, deve ser tomada e num só
sentido, o de cortar radicalmente com aquilo que somente lhe faz mal.
É também o momento em que a vítima não deverá sentir
receio de dar o nome às coisas, ora se reconhecendo como tal, vítima de alguém
com uma mente perturbada, ora apelidando o seu par mediante os seus
comportamentos erróneos, uma interiorização de conceitos que daí em diante
funcionará como ótimo suporte a partir do qual encetará uma nova fase, a de
recuperação da sua estabilidade física/emocional longe de toda a toxicidade que
até então lhe turvava a vista e confundia-lhe os pensamentos.
É muito natural que nesta fase, a parte agressora
pressinta o que mais a incomoda, ou seja, que já foi descoberta e provavelmente
denunciada ao mundo na condição em que se revelou, tomando, de pronto, também,
medidas com vista a tentar evitá-lo ou, caso tal já não seja possível, tentar
minimizar estragos para a sua imagem social. E o faz de duas formas: ora
propondo uma amizade à vítima, naturalmente de fachada, pois não a sente de
modo algum, assim como está perfeitamente consciente que a sua vítima, no seu
juízo perfeito, jamais poderia considerar uma amizade com alguém que
anteriormente a destruiu, mas mesmo assim, o lado narcisista destas pessoas
malévolas, ousa a este ponto, considerando-se sempre capazes de agradar, num
convencimento cego de que do outro lado estará, igualmente sempre, julgam
inferior, logo dependente, que, também, não quer levar da relação más
recordações; contudo, caso esta proposta seja declinada, nada mais restará à
pessoa perversa que a fuga urgente para o seu reduto, o mais invisível
possível, cortando toda a forma de contacto com a vítima e os que lhe são
próximos, não manifestando nenhum remorso pelos danos que a todos causou, sendo
provável que, do interior desse reduto, se muna das ferramentas habituais de
controlo à distância, tanto das ex-vítimas, como das próximas, em ciclos de
destruição que repetem por toda a sua vida, no fundo, o único propósito da sua
existência, fazer o mal sem olhar a quem.
Posto isto, pode-se considerar que toda a pessoa má é
covarde, como o é toda aquela que apenas se eleva perante a sua vítima enquanto
a arma que transporta for eficaz, fugindo e escondendo-se de pronto, quando a
arma deixa de o ser. A essa arma se apelida de máscara.
Pedro Ferreira
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